Patricia Isabel Rossi

Sempre me fascinou a mente humana e os grandes nomes da Psicologia: Freud, Lacan, Jung, entre outros.
Desde pequena, ouvia pessoas da família dizerem: “Psicólogo cuida de doido! Não leva a nada!” Eu, no entanto, pensava comigo mesma: ninguém leva ninguém a lugar algum se o outro não quiser. Acho que, de certa forma, eu estava começando a “pirar” — no bom sentido.

Tive que superar a barreira do preconceito dentro da minha própria casa. Para custear meus estudos, comecei a trabalhar ainda na faculdade, iniciando com um estágio na área de Recursos Humanos. E me encantei! Encantei-me ao observar como minha chefe coordenava a equipe: sempre com profissionalismo, assertividade, paciência e acolhimento. Sabe aquela pessoa que ressalta o que você fez de bom e o que pode melhorar, sempre com classe e calma? Essa era ela. Hoje, felizmente, somos amigas.

Apesar de anos atuando na área organizacional, meu destino sempre esteve na clínica. Concluí a faculdade, mas quem pensa que a universidade nos ensina tudo está muito enganado. Ela é apenas o início da nossa jornada. Por mais cursos, pós-graduações e especializações que realizemos, chego à conclusão paradoxalmente socrática: sei que nada sei. E, a cada passo, surgem novos desafios e oportunidades de estudo.

Ao longo de 30 anos de prática clínica, fui cada vez mais convencida do que Carl Gustav Jung dizia:

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Exatamente isso: não adianta ser honrado ou premiado se não conseguimos tocar a alma do outro.

Fiz especialização clínica voltada ao atendimento de crianças, uma de minhas grandes paixões. Mas a vida, sábia como é, nos direciona de formas inesperadas. E assim me vi atuando na educação: psicóloga em um colégio regular de crianças cegas em São Paulo, onde a expertise é a deficiência visual.

Lembro-me do meu primeiro dia, durante a entrevista, me perguntando: “Cegos? Como posso contribuir para este universo desconhecido? Como ajudar essas crianças sem sentir dó ou pena, sem vê-las como coitadinhas?”

Mergulhei em artigos, livros e pesquisas, mas a resposta não vinha. Até que, em uma segunda visita, coincidi com o horário do lanche das crianças. Fiquei observando e me surpreendi: corriam, brincavam de esconde-esconde, pega-pega, riam — sorrisos largos estampavam seus rostos. Ali estava minha resposta: alegria, amor, dignidade, superação, força de vontade, sensibilidade e resiliência. A partir daquele dia, compreendi meu papel na instituição como psicóloga: mostrar a eles seus direitos e o quanto são capazes.

Durante meu tempo na instituição, convivi com médicos, fisioterapeutas, professores e advogados, todos cegos. E aqui parafraseio um amigo querido:

Na deficiência visual, você pode escolher dois caminhos: vitimismo ou protagonismo.

Graças a Deus, todos optaram pelo protagonismo.

E é isso: ser protagonista da própria história!
E você, de que lado está?

Patricia Isabel Rossi Guimarães de Oliveira