Sempre me fascinou a mente humana e os grandes nomes da Psicologia: Freud, Lacan, Jung, dentre outros.
Ouvia sempre de pessoas da família: Psicólogo cuida de doido! Não leva a nada! Pensava comigo mesma, mas ninguém leva ninguém a nenhum lugar, se o outro não quiser.
Acho que estava começando a pirar, no bom sentido.
Tive que superar a barreira do preconceito em minha própria casa. Meu paizinho (que já está no céu), dizia com orgulho: um filho será médico e cuidará da minha saúde, outro será advogado e cuidará dos meus negócios e outro será dentista e cuidará de minha saúde bucal.....e eu?????...de verdade pensava: Quando o Senhor ficar velhinho, cuido de sua cabeça!
Com muito empenho, força de vontade e paixão pela psicologia, entrei na faculdade.
Decepcionei muito a expectativa do meu paizinho, e ele ficou muito bravo comigo....eu era a filha mais velha, além de tudo. Lembrando agora é bem mais fácil, e como é.
Fui trabalhar na área para custear meus estudos. Meu paizinho ficou tão bravo que se recusou a me ajudar, mal sabia ele que estava proporcionando a melhor lição para minha vida: aprender a trabalhar, me organizar e ser quem sou.
Sei, hoje que paizinho teve muito orgulho da filhota que o amava de paixão, mas como um bom descendente de Italiano, não dava o braço a torcer. Jamais!
Segui meu caminho e assim terminei a faculdade. Está muito enganado quem pensa que a faculdade nos ensina tudo. Ela é apenas o início de nossa jornada. E por mais cursos de aprimoramento, pós-graduação e especialização, chego à conclusão paradoxalmente Socrática: sei que nada sei, portanto cada vez mais, surgem novos desafios de estudo.
E assim que a caminhada de 30 anos de profissão na prática clínica, me faz cada vez mais acreditar em que o grande mestre Carl Gustav Jung, diz: “ Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
Exatamente isso que penso: não adianta ser honoris causa, se ao menos consegue tocar a alma.
Fiz especialização clínica voltada ao atendimento de crianças, uma de minhas grandes paixões, mas a vida, sábia como é, nos direciona sem que ao menos percebamos e quando nos damos conta, estava eu, na educação! Psicóloga num colégio regular de cegos em São Paulo. Colégio Vicentino de Cegos Padre Chico, onde a expertise é a deficiência Visual.
Lembro do primeiro dia, em que fiz a entrevista: Me perguntava sem resposta: Como assim cegos! Como posso contribuir para este universo desconhecido? Como posso ajudar essas crianças sem sentir dó, pena ou vê-los como coitadinhos?
Me debrucei na literatura, artigos, tudo que podia, mas ainda não tinha a resposta para minhas próprias perguntas. Até que a segunda entrevista coincidiu com o horário de lanche das crianças. Fiquei observando, e muito me surpreendia, com as crianças correndo, brincando de esconde-esconde, pega-pega e além disso, o que me fascinou foi a alegria e o sorrisão estampado em cada rostinho. Estava aí minha resposta: alegria, amor, dignidade, superação, força de vontade, sensibilidade e resiliência. A partir desse dia, compreendia qual seria meu papel na instituição, como psicóloga.
Nesse período em que trabalho na Instituição, tive contato com muitas pessoas: médicos, fisioterapeutas, professores, advogados. Todos cegos. E aqui vou parafrasear um amigo querido:
Na deficiência visual, você pode escolher dois caminhos: vitimismo ou protagonismo. E Graças a Deus, todos resolveram ir pelo caminho do protagonismo.
E é isso ! Ser protagonista de sua própria história! E você, que lado resolve estar ?
Patricia Isabel Rossi Guimarães de Oiveira